Praia de Santo António: mais um ano em que…
Últimos enchimentos, feitos no verão de 2014, já foram levados pelas marés. Empresários temem efeitos no turismo e junta reclama intervenções anuais para repor areia.
Terça-feira, meio-dia na praia de Santo António, na Costa de Caparica. Ainda faltam duas horas para a próxima preia-mar e já não se vê areia. As ondas estendem-se até ao paredão. “O mar levou a areia durante estes dias e depois dos enchimentos do verão de 2014 não estávamos nada à espera disto”, queixa-se Carlos Brumm, proprietário do K-Bar, enquanto questiona a eficácia do recurso à reposição de areia.
Porém, Alveirinho Dias, especialista em erosão costeira, afirma que as alimentações artificiais “são o procedimento adequado”, embora necessitem de intervenção anual. Já as contas da junta, que têm por base estudos realizados por técnicos do ambiente, apontam para um investimento de 35 milhões de euros em 5 milhões de metros de cúbicos. “O problema ficava resolvido”, sustenta o autarca José Martins.
“O que nós vemos é que as escadas de acesso à praia estão no ar, quando deveriam estar enterradas no areal, e as ondas já galgaram o pontão. As perspetivas para a época balnear são as piores”, lamenta Carlos Brumm, cujo estabelecimento se apresenta rodeado de sedimentos que o mar tem empurrado para terra. “O inverno nem foi rigoroso, quem é que podia adivi- nhar isto?”, questiona, alertando que até algumas das rochas que formam o pontão deslizaram para o mar representando uma séria ameaça.
“Neste buraco cabe uma criança ou uma perna de um adulto”, avisa, apontando para uma falha no paredão em frente ao seu bar, lamentando que mesmo perante este cenário deva ser obrigado a manter nadadores-salvadores assim que abra a época balnear, no início de junho.
A praia de Santo António é uma das mais procuradas por praticantes de surf e bodyboard, mas também tem registado muita afluência de turistas por estar nas imediações do parque da Orbitur. “Como vamos dizer às pessoas que compraram um programa com praia junto ao parque, que, afinal, agora não têm praia?”, pergunta o empresário.
A quem duvida da solução do enchimento artificial dos areais aplicada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) na Costa de Caparica, Alveirinho Dias, da Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente, responde que a erosão da Caparica está muito dependente dos caudais do Tejo e da saída de sedimentos do rio para o mar, mas afirma ser alimentação de areia a “verdadeira solução”, ressalvando, porém, que quando se inicia a alimentação artificial de uma praia “terá de se estar periodicamente a intervir”, o que não aconteceu na Caparica no verão de 2015. “Sabemos que há dificuldades financeiras e que este processo é caro, mas o ideal é proceder a alimentações anuais para suster a erosão”, sublinha.
O presidente da Junta corrobora desta opinião e aponta os estudos efetuados pelo chamado Grupo do Litoral que estudou as dinâmicas do mar para concluir que o recurso aos enchimentos cíclicos são a solução, até com invernos pouco rigorosos como aconteceu este ano, embora o investimento nos 5 milhões de metros cúbicos pudesse resolver grande parte do problema. “Temos de compreender que é difícil encontrar os 35 milhões de euros, mas temos de estar atentos à evolução e ir repondo a areia que se vai perdendo em tempo útil”, acrescenta José Martins.
A APA afirma que tendo por base a monitorização realizada ao comportamento das dinâmicas costeiras, o enchimento artificial perfila-se como “a melhor estratégia para se alcançarem os objetivos de proteção neste troço costeiro”. A Agência acrescenta que a monitorização de anos anteriores permite ter a expectativa que até ao verão a praia de Santo António recupere uma parte do volume de areia perdido durante o inverno, acrescentando que, no geral, “não ocorreram perdas significativas nas praias da Costa de Caparica alimentadas artificialmente em 2014″.
A APA alega que a menor largura exibida pela praia de Santo António, traduzida em cerca de 15 metros, comparando os dados de monitorização de dezembro de 2015 com março de 2016 ,”é normal para esta época”, sendo decorrente da “dinâmica sazonal típica das praias”. Ou seja, perdem normalmente areia durante o inverno por ação dos temporais, “podendo recuperar a totalidade ou parte do volume perdido até julho ou agosto”, insiste a APA, ficando este processo dependente, entre outros fatores, da altura das ondas. Quanto mais reduzidas melhor para o areal.
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