Doce prazer sem culpa ou pecado
É um dos maiores símbolos do verão. E também uma das suas maiores tentações. O prazer de comer um gelado — principalmente nos dias de muito calor — contrapõe-se com as calorias extra que trazem. Num mundo onde cada vez se fala mais em alimentação saudável e onde o açúcar é o inimigo público número um, também o mercado dos gelados artesanais oferece alternativas menos nocivas para a saúde.
Nas montras das geladarias portuguesas começam a surgir os sabores sem açúcar, com stevia ou até mesmo com açúcar biológico. Como é caso da Fragoleto, na baixa lisboeta, onde se destacam sabores exóticos numa autêntica rota de especiarias com opções menos doces, seja para manter a linha, por motivos ideológicos, como é o caso de quem é vegan, ou por razões de saúde, como os diabéticos.
Esta geladaria tem sempre vários sabores que vão além do açúcar e das natas. Há sempre um gelado de chocolate de 80%, um de cacau com avelã feito sem sacarose ou um com sabor a café produzido sem qualquer vestígio animal, mas a opção mais fresca e saudável são os icepop (em pauzinho) biológicos. Há de melancia, laranja, limão, meloa, morango e além de poderem ser provados na geladaria, circulam por outras zonas da cidade, como o supermercado biológico Amor Bio ou o Miosótis.
É a resposta a uma nova tendência na alimentação, a procura por alimentos alternativos, que tenham sabor, mas que sejam menos calóricos e que tenham nutrientes mais amigos do organismo. Porém, sempre existiram pessoas que se viam obrigadas, por questões de saúde, a cortar nos gelados. Do outro lado do rio Tejo, na Costa da Caparica, já há vários anos que a geladaria Pintado alargou o seu vasto leque de sabores para incluir toda a gente. Apesar de estar mesmo em frente à praia, todo o ano há gelados para diabéticos, com fibras e probióticos, para quem tenha problemas de digestão.
“Em casa sempre cortei no açúcar, mas chegava à rua e reparava que havia pouca oferta de doces, em especial gelados, com alternativas. Comecei a experimentar em casa e, aos poucos, a comercializar”, conta João Vaz, o autor e mentor do Gato Gelados, um serviço de produção artesanal e entrega ao domicílio. Tudo feito com stevia, uma planta que não causa diabetes, não tem calorias nem altera o nível de açúcar no sangue. “Temos uma base estável de sabores — como o chocolate, o morango ou a baunilha — que vai variando conforme a fruta da época. Este gestor industrial e antigo produtor deste adoçante natural, tem acumulado milhas na distribuição dos gelados — o ano inteiro — e prepara-se para dar o salto para uma loja própria no centro da capital.
PORTO VEGAN
Na Invicta, o Doxa produz sabores tão diferentes como sardinha ou cenoura, além dos tradicionais, sem açúcares ou aditivos. Os sabores valem pelo doce natural da matéria-prima. Uma ideia de dois jovens empreendedores que trabalharam na área da restauração e se aventuraram na geladaria para alargar a oferta existente.
No que toca ao norte, a tendência que cresce são os gelados vegan, sem corantes, sem conservantes e sem gordura animal. Nas bancadas das geladarias Amorefrato, na Frssco da Gustare e na La Copa há sempre algumas opções mais saudáveis. Mas só na Cremosi, onde a montra tem mais de 50 sabores, é que se pode dizer que são todos 100% naturais.
Mais ao centro do país, na Figueira da Foz, a Emanha habitou os veraneantes a sabores exóticos e tradicionais, feitos com a dose de doce e natas que as receitas italianas ditam. Só que, recentemente, abriu o leque de oferta e começou a produzir gelados de kefir, um leite de montanha que se encontra no Cáucaso, Tibete ou Mongólia e que tem propriedades probióticas. É considerado bom para a saúde pelo elevado conteúdo de microrganismos vivos. E, neste caso, a prova de que tradição convive com a inovação. E que os saudáveis vão conquistando espaço também nas montras das geladarias.
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017-06-25-Doce-prazer-sem-culpa-ou-pecado