É este o projeto (incrível) para a reabertura do…
No final de 2009, Hélder Nogueira leu uma notícia sobre a possibilidade do festival Sol da Caparica realizar a edição desse ano no antigo espaço do Ondaparque. “Foi esse o trigger”, conta à MAGG o administrador e analista de sistemas de 34 anos. De repente, sentiu-se invadido pelas memórias da infância e adolescência passada no parque aquático. Que saudades das descidas alucinantes, da música constante, dos concursos aos fins de semana.
Tinha passado mais de uma década desde que, na escola, lera com os colegas a notícia do “Caderno Diário”, que anunciava o encerramento do espaço. De repente, estava cheio de perguntas: porque é que o parque fechou? O que é que tinha acontecido? Como é que ele estaria agora? Última pergunta: não seria possível reabrir o Ondaparque?
Foi um dos mais importantes parques aquáticos do País mas está abandonado há 22 anos. Situado na Costa da Caparica, junto à IC20, o espaço esteve em funcionamento entre 1988 e 1996. Durante oito anos, milhares de pessoas escolheram o Ondaparque para passar o verão — e não estamos a exagerar nos números, há registos de datas em que entraram mais de sete mil pessoas num único dia. De um modo geral, o limite eram cinco mil.
Com um total de 14 mil metros quadrados, tinha seis piscinas, um restaurante, três bares e, em determinada altura, até um canil — que acabou por se revelar uma má ideia, uma vez que houve quem achasse que aquele era o local ideal para abandonar os seus animais. Tantos anos depois, o espaço está em ruínas mas ainda há muito carinho e nostalgia para com o Ondaparque — basta ver a página de Facebook com o mesmo nome, que tem mais de 30 mil fãs e 488 fotografias antigas partilhadas.
Agora isso pode estar prestes a mudar. Depois de muitos anos de trabalho, levantamentos exaustivos, planos financeiros e até saltos para dentro das tubagens para escoar as águas acumuladas há 18 anos. Mas já lá vamos. Não é possível falar do projeto para o regresso do Ondaparque sem referir dois nomes: Hélder Nogueira e Bruno Carvalho.
Há oito anos que dois homens trabalham pela reabertura do Ondaparque
À partida, estes dois homens não têm nada em comum: Hélder tem 34 anos, é natural de Lisboa e trabalha como administrador e analista de sistemas. Bruno tem 35 anos, nasceu em Cascais e é fuzileiro da Marinha. Não são amigos de infância, não tinham amigos em comum, nem sequer viviam na mesma zona. No entanto, depois da notícia sobre o Sol da Caparica e o Ondaparque, andavam os dois a fazer exatamente o mesmo: a procurar o máximo de informação possível sobre o parque aquático.
“Depois da notícia, houve um pequeno movimento de partilhas sobre o Ondaparque, sobretudo em fóruns. É nessas publicações que eu encontro sempre a mesma pessoa, o Bruno Carvalho, a fazer as mesmas perguntas que eu: Porque é que ele fechou? Quem é o proprietário? Onde está?”.
O que é que nos fez avançar? Perceber que o projeto era viável. Qualquer barreira que nós colocássemos, caía por terra.”
Trocaram números, partilharam um com o outro tudo o que sabiam e até refizeram o logótipo do Ondaparque. Depois passaram para a componente técnica. “O que é que nos fez avançar? Perceber que o projeto era viável. Qualquer barreira que nós colocássemos, por exemplo, o Ondaparque não pode cumprir este decreto regulamentar, não pode cumprir esta diretiva, caía por terra. A verdade é que cumpria. Sempre. Sistematicamente.”
O terreno de 14 hectares onde estava abandonado o Ondaparque pertencia (e ainda pertence) ao engenheiro Libório Temporão. Hélder e Bruno entraram em contacto com o empresário da área da construção civil, no sentido de perceberem como é que poderiam trabalhar em conjunto. Do mapeamento do parque aos orçamentos, eles estavam disponíveis para ajudar em tudo o que fosse possível. Para o engenheiro, o objetivo é vender o terreno. Para estes dois homens é ver o parque ativo novamente.
“Percebemos que as pessoas não manifestavam interesse, ou não avançavam com o interesse, quando percebiam que ainda havia muita coisa a ser feita. Ninguém quer mapear um parque aquático com aquela dimensão”, ri-se Hélder Nogueira. “Nós decidimos que íamos fazer esse trabalho. Nós íamos mapear aquele parque, nós íamos rectificar todas as cotas, íamos convertê-lo dentro do decreto regulamentar e íamos orçamentar todas as infra-estruturas que ele tinha até ser um projeto por completo.”
Foi exatamente isso que fizeram nos anos seguintes. Na verdade, foram ainda mais longe e chegaram inclusivamente a saltar para dentro das piscinas, tanques e casas das máquinas para drenar a água. Depois de contactarem várias entidades com o objetivo de obter orçamentos, todas responderam a mesma coisa: não estão reunidas as condições necessárias de segurança para efetuar esse trabalho. Tiveram de ser eles a meter a mão na massa. Ou na água, neste caso.
Foi ainda mais difícil do que se possa imaginar. Para drenar o Ondaparque foi necessário em primeiro lugar reparar a conduta pluvial, de modo a que a água pudesse ser escoada para o coletor de esgotos. O problema é que os agrupamentos técnicos principais dessa conduta estavam submersos. “Foram algumas tardes de verão que ficámos sentados nas Pistas Fofas, não a descansar mas sim a secar.”
Obviamente que Hélder e Bruno têm consciência do valor monetário do Ondaparque — e das receitas que o espaço iria conseguir se voltasse a abrir. “Não posso dizer que foi única e exclusivamente por uma questão de amor. É também com a visão do negócio.” No entanto, vai muito além disso — até porque a qualquer momento pode surgir um investidor que queira avançar sozinho.
Mas o que é verdadeiramente importante aqui é sentir que estamos a fazer algo pelo Ondaparque. E se as nossas acções resultarem na reabertura do parque, a missão foi cumprida.”
“Temos consciência dessa realidade. Mas o que é verdadeiramente importante aqui é sentir que estamos a fazer algo pelo Ondaparque. E se as nossas acções resultarem na reabertura do parque, a missão foi cumprida.”
Antes de avançarmos para o futuro, isto é, para o projeto que foi pensado para o “novo” Ondaparque, importa fazer uma passagem por outros dois tempos verbais: o passado e o presente. Porque não é possível perceber o que é ele pode vir a ser sem olhar para o que ele foi e como está agora.
O que é que o Ondaparque tinha
Com capacidade diária para cinco mil pessoas, o parque aquático tinha uma estação de rádio própria, música a passar a toda a hora, jogos em todas as piscinas, seis no total, e muitas diversões. Em 1993, os bilhetes custavam 1.700 escudos para os adultos, o equivalente hoje, tendo em conta a inflação, a 19,29€, segundo a Pordata. Os miúdos pagavam 800 escudos, que daria hoje 6,94€.
Logo à entrada via-se a sequência de fotografias tiradas no parque, onde os visitantes podiam comprar a sua favorita. Em determinada altura, chegou a haver também aqui animais exóticos.
Todas as piscinas do Ondaparque tinham o nome dos equipamentos. A piscina mais perto da entrada era conhecida como a Piscina dos Cogumelos e tinha um jogo que fazia os miúdos delirar: quem conseguisse subir até ao topo do cogumelo, e permanecer o tempo suficiente para tirar uma fotografia, recebia-a gratuitamente.