Já fez terapia da floresta?

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Já fez terapia da floresta?

Com a correria do dia-a-dia, o stress no trabalho, muitas vezes não paramos para desacelerar. “As pessoas têm imensos inputs (telemóveis a tocar, trânsito, etc..), geralmente com o uso da tecnologia, estão em mode multi-tarefa. Levam ritmos de vida vertiginosos, isto sobrecarga o sistema nervoso com a consequência do stress. O corpo reage a esta agressão adormecendo os sentidos”, explica à SÁBADO Alex Gesse, guia na Shinrin-Yoku Portugal.

O termo Shirin-Yoku significa, em português, banho de floresta e é uma terapia desenvolvida no Japão para estabelecer uma ligação com a natureza através dos sentidos. Razão: em 1982 foi lançado no país um programa nacional de saúde tendo em vista o banho de floresta. Porquê no Japão? Dois terços do país estão cobertos de floresta (4828 quilómetros de floresta). De acordo com o livro Shinrin-Yoko: A Arte Japonesa da Terapia da Floresta, de Dr. Qing Ji, Presidente da Sociedade Japonesa de Medicina Florestal, a primeira floresta a ser utilizada para testes experimentais foi a floresta Akasawa, vista como uma das três florestas mais bonitas do Japão. E no livro Shinrin Yoku, de Yoshifumi Miyazaki, vice-director do Centro para o Ambiente, Saúde e Área das Ciências, da Universidade de Chiba, Japão, que esta terapia reduz a tensão muscular e fortalece o sistema imunitário.

A SÁBADO resolveu ir descobrir o que esta terapia tem de tão especial. Foi na Mata dos Medos, na Costa da Caparica, que o passeio foi realizado. “Na Mata dos Medos sinto-me em casa. Procuro espaços nos que possa conjugar uma serie de elementos como a biodiversidade da floresta, zonas limítrofes de diferentes biótopos, caminhos bem sinalizados, que não exijam preparação física aos participantes, facilidade para deixar o carro ou que estejam perto dos principais centros urbanos. A Mata dos Medos é uma floresta de uma beleza extrema que além disso tem umas vistas fabulosas sobre o oceano”, afirma o guia, que vivia em Barcelona e que casou com uma portuguesa e decidiram trocar a cidade pela qualidade de vida em Portugal.

Florestas certificadas
Mas será que a terapia pode ser feita em qualquer floresta? A resposta é não. No Japão (tem 62 florestas certificadas), medem alguns parâmetros como a temperatura do ar, humidade, luminosidade, sons, compostos orgânicos voláteis emitidos pelas árvores, etc. “Os estudos dos japoneses êm vindo a demonstrar que a prática do Shirnin-Yoku melhora o bem-estar e a saúde das pessoas, mas desconhecem-se os mecanismos exactos por atrás de cada um destes processos”, diz Alex Gesse. E acrescenta: “os principais arguidos são as Phytoncide, as sustâncias voláteis antimicrobianas e bacterianas que as árvores usam para se proteger de bactérias e micróbios. Também a carga iónica da terra. Mas também há estudos científicos que demonstram a melhoria da saúde nas pessoas que vivem perto de parques urbanos e no contacto com o mar”.

Será para todas as idades? O guia Alex Gesse, que também é formador e mentor de guias para a ANFF, associação americana Nature and Forest Therapy Guides & Programs, afirma que sim. “A Terapia da Floresta é para qualquer idade. O mais novo foi uma criança de dois anos e o mais velho uma senhora de 91 anos, na Quinta das Conchas e dos Lilases, explica.

Livro terapia da floresta
Livro terapia da floresta

A importância do círculo
O passeio incluiu seis pessoas, com o guia. “Gosto de não levar mais de 20 pessoas num grupo e não menos de 6, por uma questão da qualidade da experiência. Ainda assim, já fiz passeios de Terapia da Floresta com uma pessoa e com grupos de até 35 pessoas”, explica o guia. O primeiro momento foi formar um círculo e colocar um ramo de madeira no meio e, à medida que as pessoas iam passando o ramo – sempre pelo lado do coração – diziam algo pelo qual estavam gratos naquele dia. “O círculo tem por base uma tradição que se chama council, parte do ponto de partida que num círculo todos somos iguais (mesmo o guia ou facilitador)”.

Depois o grupo foi divido em grupos de dois. Objectivo: partilhar uma experiência que já tivessem tido numa floresta. A SÁBADO juntou-se ao guia, que desde pequeno explora florestas, mesmo sem saber que o que estava a fazer tinha um nome, Shirin-Yoko.  Alex Gesse recorda um dos episódios mais arriscados que aconteceu na Costa Rica. “Encontrei uma localização lindíssima só que era usada para pasto das vacas. Cheguei a um acordo com o pastor em que ele as tirava dali para poder fazer o banho da floresta. Cheguei com os participantes e as vacas continuavam ali. No final as vacas gentilmente cederam-nos a sua casa para o passeio. O mais importante no passeio é a segurança dos participantes e andar com as vacas à solta era um risco”, diz o guia.

Depois de apreciar a vista para o mar [sem tirar fotografias, apenas sentir a brisa do mar], foi feito novamente um círculo. Foi feita a posição da montanha e a respiração na floresta: manter de pé com os braços virados para fora e, de seguida, inspirar e expirar. Por fim, ficar na posição mais confortável: uns escolheram a direcção do mar, outros do sol, do cheiro a alecrim, etc). “Os convites são instruções para apoiar as pessoas a desacelerar deste ritmo urbano, despertar os seus sentidos para conectar com o entorno e usufruir dos benefícios terapêuticos da floresta. Uma oportunidade a relacionar-se com a floresta de forma sensorial, uma oportunidade de voltar ao nosso corpo. Chamamos-lhes convites porque é um convite criar o seu próprio espaço no que começar esse relacionamento, ser eles próprios”, explica o guia. Os convites podem ser diferentes para cada passeio. Mas será que a experiência seria a mesma sem um guia? A SÁBADO conferiu que não. Razão: sem um guia, não estaríamos tão atentos ao que realmente se pode encontrar na natureza. “Muitas vezes as pessoas têm dificuldade em conectar com a Floresta, por isso recomendo fazer os banhos de Floresta com um guia”, explica Alex.

As partilhas não são conversas
Uns meditavam, outros sentavam-se ao pé de árvores, outros cheiravam plantas e há até quem tenha adormecido enquanto estava sentada ao lado de uma árvore. Outros convites passaram por passear durante 15 minutos, apanhar tesouros da floresta como ramos, pinhas, flores. Para saber quando seria a hora de reunir, o guia fazia sempre um grunhido e no final de cada convite, era a altura de partilhar o que quiséssemos, por exemplo, o que sentimos ao sentir a brisa do mar, ao sentir a textura de uma árvore.  “Só fala uma pessoa de cada vez, o resto de participantes testemunham a partilha, não é uma conversa, não há feedback. As pessoas podem partilhar com as suas palavras ou com o seu silêncio. Este processo, em algumas ocasiões, ajuda as pessoas a integrar a experiência que estão a viver, e se calhar a ir alem dos seus limites prévios. Limites que em muitas ocasiões vêm socialmente definidos”.

Catarina Cerdeira, de 38 anos, gestora de eventos, costuma fazer caminhadas no meio da natureza há cerca de três anos, mas esta foi a sua primeira experiência neste contexto de terapia da floresta. “Por um acaso eu já conheço o Alex, trabalhámos juntos, no entanto tenho cada vez mais interesse em actividades que me coloquem em contextos de natureza e estou a privilegiar cada vez mais este tipo de actividades em detrimento de outro tipo de actividades que são mais ruidosas, estimulantes. Estou à procura de um regresso à simplicidade”, conta à SÁBADO a gestora de eventos.

No passeio na Mata dos Medos, Catarina sentiu a confirmação de que realmente era algo que gostava muito de fazer. “O convite é apenas estarmos, não é fazer, não é descobrir algo que já não esteja dentro de nós. O convite é desacelerar, é estarmos mais atentos à simplicidade da vida e lembrarmo-nos de que todos aqueles elementos fazem parte de nós e nós fazemos parte daqueles elementos”. Alex Gesse afirma que é o ADN que nos faz voltar a contextos de natureza. “Nos últimos tempos, há uma tendência generalizada em todo o mundo de buscar adaptar-se aos ritmos da natureza, passar mais tempo em contacto com ela e deixar-se surpreender pelas experiências que esta pode proporcionar. Gosto de pensar que é o nosso DNA que chama as pessoas a voltar ao lugar onde evoluímos por milhões de anos”, observa o guia.

No final é sempre feito o ritual do chá, com ervas que o guia foi apanhando ao longo do percurso. “A cerimónia do chá é uma forma gentil de voltar ao que nos é recorrente. É uma cerimónia que indica o final do banho da floresta e a volta ao nosso dia a dia”.

http://www.sabado.pt/vida/detalhe/ja-fez-terapia-da-floresta?ref=Portugal_Ultimas

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