Faz 45 anos, é a hamburgueria mais antiga de…
Os meses que se seguiram à abertura do SandwichBar, a primeira hamburgueria do País, não foram fáceis. “De início as pessoas vinham aqui e diziam que hambúrgueres era carne mastigada”, explica à NiT Hugo Ponte, o fundador do negócio. Em 1974, tinha 21 anos e, apesar de estudar engenharia eletromecânica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, decidiu tentar ser empresário e abriu um espaço de restauração na Costa de Caparica.
Faz esta quarta-feira, 5 de junho, 45 anos desde que ligou uma pequena chapa num espaço de 12 metros quadrados na Praça da Liberdade. “Na altura, os hambúrgueres não eram conhecidos e era o único produto que tínhamos. As pessoas até perguntavam se não vendíamos pregos ou cachorros. Chegavam a ir embora.”
O SandwichBar esteve para fechar logo nos primeiros meses, mas o sucesso acabou por chegar e, agora, no pico do verão, são servidos mais de mil hambúrgueres por dia e há filas de vários metros até à farmácia Almofariz, onde começa a Rua dos Pescadores que dá acesso à praia.
A ideia surgiu em 1973, quando viajou com os pais até Torremolinos, na Andaluzia, em Espanha. “Estavam 50 anos à nossa frente. Já se viam espaços com hambúrgueres em todo o lado. Cá não. Era algo pontual.” Pensou então trazer o conceito para a Caparica. Hugo Ponte nasceu em Algés, mas era na Margem Sul que passava grande parte dos verões em miúdo.
Acabou mesmo por se mudar para a Costa com a família e foi ali que teve o primeiro trabalho. “Dava explicações de matemática e física aos miúdos do segundo ciclo.” O dinheiro que tinha não era muito mas, mesmo assim, queria avançar com a hamburgueria. “Comecei a vender a ideia a várias pessoas para conseguir apoios.”
No número 5 da Praça da Liberdade funcionava uma retrosaria. “O espaço estava fechado há dois anos. Conhecia o responsável, o senhor Toni, que agora tem 90 anos. Ainda lhe pago a renda hoje mas no primeiro ano não me levou nada. Também era explicador do sobrinho dele.” Numa loja de eletrodomésticos da zona comprou uma pequena chapa a gás onde cozinhou os primeiros hambúrgueres.
Já a montagem do espaço conseguiu-a com a ajuda de um amigo com quem jogava xadrez. “Arranjou uns barrotes e construímos aqui um balcão em pouco tempo.” Primeiro, no menu, só tinha hambúrgueres simples ou com cebola, servidos num prato de plástico com um guardanapo na base e um palito com azeitona por cima. “Passámos depois a ter um com queijo, outro com cebola e queijo, outro só com alface e tomate, tudo muito simples.”
Começou por ter um pão normal de uma panificadora da Costa. Mais tarde associou-se a outro projeto de Almada. “Era de um senhor indiano, que fazia uma versão brioche com sementes de sésamo e tudo.” Atualmente é em pão de hambúrguer da Bimbo que serve para a maior parte das sugestões.
Durante muitos anos Hugo e os funcionários faziam o processo todo. “Tínhamos um espaço onde recebíamos as peças, as desmanchávamos e temperávamos.” Há seis anos começou a ter um fornecedor, que os faz agora com receita própria e gramagem certa.
O espaço é pequeno e nunca teve lugares no interior. “As pessoas chegavam aqui e comiam de pé.” Só há 20 anos é que montaram a esplanada. Tem capacidade para 50 pessoas e é bastante concorrida durante o verão. O restaurante abre todos os dias às 11 horas e só encerra às duas da manhã.
A última remodelação foi feita em 2018. A imagem foi mudada e foi colocado um papel de parede no interior. As opções do menu é que não sofreram alterações. Só há cinco hambúrgueres com combinações já prontas. É o caso do 1974, só com hambúrguer e cebola (2,50€); o 1988, com queijo e cebola (3€); o 2001, com queijo, bacon e cebola torrada (3,50€); o 2012, com queijo, tomate, alface e tomate (4,50€); e o 2019, a versão vegetariana, preparada com legumes (4,50€).
Outra das hipóteses é escolher tudo o que quer entre as duas fatias de pão, que são ligeiramente torradas. Primeiro tem de decidir se tem fome para um hambúrguer de 90, 160 ou 200 gramas — este último foi criado em especial para o 45.º aniversário. Depois é juntar ovo, cebola, tomate, batata palha, queijo, bacon, ananás, cogumelos e molhos. Cada um custa a partir de 50 cêntimos.
“O hambúrguer é uma coisa simples. É só carne, grelha, segue e mete lá dentro [do pão]. Nunca percebi a ideia do gourmet, de quererem fazer do hambúrguer uma refeição. Não é necessário.” Houve uma altura, quando as hamburguerias viraram moda, em que passaram a ter também, por exemplo, espinafres, mas foi algo a que as pessoas não se adaptaram. “Preferiam o mais tradicional.”
Para acompanhar há as bebidas de sempre e curiosa é também a história deste ter sido o primeiro espaço a vender Coca-Cola na Costa de Caparica. “Dois anos depois de abrirmos, o vendedor parou a carrinha aqui na Praça. Pegou na grade com as garrafas de vidro e veio fazer negócio. Já conhecia a marca e por isso aceitei. Fomos os primeiros aqui na zona.”
Hugo Ponte, que agora tem 66 anos, não se ficou pela hamburgueria e sempre esteve à frente na criação de tendências. Por exemplo, há 20 anos, abriu em Almada o China Express, com motas que faziam o serviço de entregas ao domicílio de street food asiática na zona — acabou por fechar, já que era vandalizado com muita frequência.
Comprou também a primeira discoteca da Costa, o Animatógrafo. Foi lá que, numa festa a que foi como cliente, conheceu a mulher, Jaqueline. Teve ainda um bar de praia e uma gelataria. No Algarve também foi responsável por espaços de restauração e bares. Acabou por se fixar na Caparica, onde montou um império.
Além do SandwichBar, o primeiro negócio, gere um italiano, o Napoli; a Residêncial Mar e Sol, com 23 quartos; um negócio de petiscos ibéricos, a TascaRica; e Apeixonado, dedicado a peixe fresco, que foi o mais recente a ser inaugurado, em 2018.
Ficam todos no mesmo quarteirão e são geridos com o apoio da mulher e dos dois filhos, Melody e Marcos Ponte, 39 e 33 anos, respetivamente. Hugo não quer terminar por aqui e revela à NiT que, até ao final do verão, haverá mais novidades. Cá as esperamos.
https://nit.pt/buzzfood/restaurantes/45-anos-hamburgueria-antiga-portugal-historia-incrivel